sábado, janeiro 28, 2023

Bichos brutos

Meu avô dormia com o revólver debaixo do travesseiro.

Já eu, durmo com o celular para despertar e não perder a hora.

Até o tempo o vô devia matar muito bem. Só o conheci de ouvir falar. 

Dizem que ele sumiu depois de 1964. Coisa de revólver.

Já eu, contento-me em matar pernilongos com raquete elétrica.

Mas sei que o tempo muda tudo e devora todo mundo, seja o indivíduo com revólver, celular ou raquete elétrica.

Só ficam as baratas. Essas eu geralmente tenho dó de matar. Nem digo que é medo, para não pegar mal.


segunda-feira, maio 02, 2022

Grandes "mistérios" brasileiros

O hambúrguer não era de picanha, nem de costela. O presidente nunca foi mito, nem honesto. O pastor era metido com o tráfico e a milícia. O cidadão de bem passou na coca-cola, pegou dois travestis e 10g de pó, para esticar na bíblia, num motel da esquina. 

sexta-feira, abril 29, 2022

A qualquer momento

Minha estante está cheia de livros que nunca lerei. Tenho uma lista de músicas que nunca escutarei. A qualquer momento, ou daqui a dois, cinco ou vinte anos, morrerei. Sem fazer tudo que planejei. Acumulamos um montão de desejos e coisas para suprir o vazio da certeza de que tudo acaba a qualquer momento. Tentar dar sentido ao caos é arte e religião, daquelas que espalham sangue, gozo e terra pela cara. Assim nascemos e morremos em meio à escuridão. A vida é um ensaio de erros, acertos, arrependimentos, choros, crises de pânico e ansiedade. Por fim, o alívio chegará antes do salvador pregado na cruz. Deixem ele em paz.

quinta-feira, dezembro 23, 2021

Fala

 Os animais domésticos costumam usar a boca para comer, beber, brincar, lamber genitálias, ameaçar, machucar e matar. Eles não sabem falar. 

Os humanos também usam a boca para tudo isso. A diferença está na sofisticação de sabermos falar. Essa característica nos permite fazer todas as outras coisas que os animais fazem com a boca.

E, apenas com a fala, conseguimos conquistar qualquer coisa, inclusive sem latir, ranger os dentes ou derramar sangue.


domingo, abril 25, 2021

Jogo de cartas

Entre os dilemas, problemas e dores, resolvi queimar todos eles com uma carta de baralho. E continuei o jogo com a carta mais baixa.

Muita gente está morrendo, parece uma guerra. O pai de uma amiga morreu hoje, e amanhã pode ser alguém mais próximo ou eu. Mesmo que vivo, não conseguirei consolar ninguém.

Apenas continuarei o jogo, enquanto escuto como a vida poderia ser boa com uma sequência de cartas melhor.

Enquanto tento continuar o jogo, vou ganhando e perdendo, sabendo que, no fim, o baralho irá acabar. Que tudo irá acabar.

O segredo é como jogamos até o fim. E, se lembrarmos como será o fim, ninguém ou nenhuma carta irá me vencer. E nem sairei da mesa, em solidariedade a vocês. Porque eu sei que nunca há vencedores. Apenas resistentes de uma batalha que começa no nada e vai a lugar algum.

O objetivo é só continuar o jogo que já sabemos o final. Quem fala o contrário deve ser sócio do cassino, que não quer que você desista e continue jogando. Mas, para eles, eu tenho a maior carta do baralho. E não jogarei outra rodada